Como contrapartida para o Fundo de Apoio à Cultura que financiou este projeto, me comprometi a lecionar 24 horas de um intensivo curso de composição para uma das cidades satélites do Distrito Federal.
A ideia foi unir os compositores locais para que a produção de cada um fosse exposta e dessa forma, pudéssemos entender melhor o que cada um entende como composição, o que cada um almeja, quais as maiores dificuldades de cada um.
A primeira dificuldade é esbarrar em um mundo pequeno que tem consideração composicional como um estilo, ou forma determinada. Pensar na composição musical de forma mais abrangente contextualizada num mundo foi a minha intenção. Para tanto foram feitas abordagens históricas, estilísticas e filosóficas para o ato da composição, além de noções básicas de partitura, pulso, prosódia, claves, cifras, compasso, e criatividade.
Para que a oficina fosse liberta de estilos pré-determinado, e desprendida do que é consumido pelo grande público em geral, a liberdade estética foi fator fundamental para criação.
Deixamos aqui 3 exemplos de composições feitas coletivamente onde cada um dos participantes escolhiam parâmetros composicionais de acordo com seu conhecimento e de acordo com o conhecimento obtido por todos naquele ambiente criativo.
Furiosa Bateria de Sucata
Essa composição foi baseada em timbres e pulsos conseguidos através da experimentação com instrumentos feitos a partir de materiais reciclados nos dando a oportunidade de testar na prática novos sons e novos ritmos criados a partir de um mesmo pulso e em tempo real.
Romântica Romilda
Esta composição surge da poesia criada através de estímulos criativos que não tinham nenhuma nexo a principio e, aos poucos, foi se organizando até virar um “arrocha” , estilo derivado da música brega. Neste caso a intenção composicional deixa claro que o mesmo parâmetro usado em um quarteto de cordas por Mozart (andamento por exemplo) também pode ser usado em uma música de Reginaldo Rossi.
Fizemos o possível para que essa composição ficasse o mais brega possível.
Symphonya Vherdeh
Aproveitamos os parâmetros de escrita musical e partitura e partimos do caminho contrário: antes de ter a ideia composicional para escrever, escrevíamos e organizávamos a música a partir das figuras recém conhecidas no papel.
O resultado foi um fragmento, uma pequena melodia que foi gravada com baixo, loops eletrônicos, guitarra e flauta transversal com distorção. A intenção era mostrar como apenas 8 compassos podem se transformar em uma música e se encaixar em vários estilos.
Preta Erudita
Levei muito tempo criando as canções que compõem este álbum. Algumas fiz há mais de dez anos atrás, mas nunca pensei em como juntá-las, nunca foi claro para mim um tema comum entre elas. De repente, ao escolher o repertório a ser gravado, me deparo com minha história de vida exposta, como aquelas revistas que ficam na recepção de um consultório odontológico!
Todas as músicas brotam do coração, fruto de histórias reais. Tenham certeza de que estão a ouvir o coração mastigado de um compositor que se jogou de cabeça nos sentimentos mais confusos, sem nunca se arrepender das desilusões e sempre apaixonado pelo universo feminino.
Hoje sei que compus sobre o que mais acho bonito neste mundo, a mulher. E elas dão um show... na confusão inesperada, na previsão exata do futuro, na suavidade letal de seus espinhos e num cheiro digno de quem poode fabricar gente. Sei também que muitos compositores caíram nos encantos femininos, não é de hoje que a inspiração se disfarça de mulher para despertar em nós, mortais, a música! Aliás, a própria palavra música vem de musas, as filhas de Zeus, que inspiram os artistas desde a Grécia antiga.
Reconhecendo isso, comecei a pesquisar as inspirações de diversos compositores e deixo aqui para vocês um pouco do que encontrei. É com muita satisfação que o Álbum Preta reconhece a inspiração causada pelo feminino nos indefesos compositores que tem o trabalho de musicar este planeta! Para começar este estudo, falarei um pouco sobre Érik Satie, um compositor excêntrico, que marcou o modernismo francês.
O compositor e regente Leandro Morais lança seu primeiro disco em meio virtual, o Álbum Preta, à disposição para download gratuito pela internet (www.albumpreta.com.br). No repertório, o autor ilustra as musas de sua vida em ritmo e verso, uma investigação do universo feminino. Leandro, soteropolitano radicado em Brasília formado em composição e regência pela Universidade Federal da Bahia, traz um disco diverso, com participações especiais de cantoras do DF como Andréia dos Santos (ex- Casa de Farinha), do baixista Cezário Leone, diretor musical de Daniela Mécury, e masterização de Felippe Mattos. Samba, jazz, MPB e choro são alguns dos estilos brasileiros que marcam a produção do Álbum Preta, demonstrando a sonoridade diversa do autor da obra que tem povoado a cena brasiliense tocando com uma série de bandas da cidade, apresentando agora seu primeiro trabalho autoral.
Mulheres, musas e suas nuances. Estes são elementos que inspiraram o músico, compositor e regente Leandro Morais para produzir e lançar virtualmente seu primeiro repertório musical, o Álbum Preta. O encanto feminino, olhares e acordes que surpreendem, subvertem o ritmo e se entregam ao desejo.
A produção conta com patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), Secretaria de Cultura e GDF, e a realização tem co-produção do Coletivo Palavra, do qual Leandro é Articulador Musical.
As canções
Uma sonoridade que chama ao aconchego, os caminhos que percorrem o pensamento das mulheres que povoam o fazer artístico de Leandro Morais são elementos que ficam ainda mais explícitos nas músicas. Dentre estas, a música de trabalho Preta (faixa 3 no site), que batiza o álbum, um samba com pegada de Bossa Nova que traz um carinhoso pedido de casamento. A música traz a sutileza pela composição com instrumentos diversos, a flauta transversal arrematando estrofes trazendo leveza feminina à canção, que também é um louvor à negritude. Em “Todos os Santos” (faixa 11 no site), o sincretismo toma conta quando o cantor pede a deuses das diversas religiosidades para receber da mulher amada “prazer e alegria”. Num country cômico e consciente sobre a “Ditadura do Relógio” (faixa 8 no site) traz um pedido de mais calma em tempos de atropelo e capital, elemento da essência de Leandro, com sua calma baiana característica.